quarta-feira, 26 de julho de 2017

Sobre os tempos ruins

 Então, sei que faz muito tempo que não apareço no blog e que meus últimos posts foram totalmente aleatórios e muito mal feitos. A verdade é que tenho vários planos para o blog, mas se antes era preguiça passou a ser por falta de tempo e agora por disposição.
 Aconteceram coisas horríveis na minha vida, e nesse exato momento eu me encontro totalmente quebrada e perdida. E por esse motivo resolvi voltar a postar, para contar a todo mundo o que aconteceu.
 Eu sei que as pessoas próximas de mim sabem a grande perda que tive, mas achei que fosse melhor explicar um pouco mais o que já estava acontecendo comigo. Não é para chamar atenção ou qualquer coisa do tipo que passar por sua cabeça. É algo mais para desabafar e tentar deixar todo mundo no mesmo pé da história.
 O início do ano estava com tudo certo e até mesmo tinha finalmente conseguido pintar todo meu cabelo após 13 anos de tentativas. Fiquei muito feliz com o cabelo azul e estou contando isso por que estar com o cabelo colorido me fez criar um pouco mais de confiança. Não acho que algum dia eu tenha sido alguém baixa auto-estima, mas sei que sou insegura em muitos momentos. E nisso ter um cabelo chamativo ajuda e muito. As pessoas já estão olhando de qualquer maneira, então de alguma forma há uma maior liberdade para fazer tudo.
 Só que em algum momento do caminho alguma coisa começou a dar errado e eu não tenho ideia direito do que pode ter sido. Tudo o que sei é que em abril eu comecei a me sentir desanimada, sem vontade para nada. E não, era algo diferente de preguiça, mas você pode achar que era isso, se preferir. Para mim, não vai mudar em nada.
 Um pouco depois disso comecei a ficar realmente triste e meio deprimida, após brigar com algumas pessoas importantes para mim. Não foram brigas sérias, mas de algum modo eu já estava me sentindo esgotada. Tudo o que eu queria era ficar sozinha no meu canto.
Na mesma época eu tinha recém começado a conversar com um colega e de alguma forma me senti a vontade para falar com ele sobre isso. Acho que era por ser alguém de fora, alguém com quem eu não me preocuparia de que fosse achar que eu estava exagerando ou que me fizesse sentir como se estivesse atrapalhando por falar sobre coisas estúpidas.
Não que eu realmente achasse que era isso que as pessoas fossem achar, mas é difícil chegar para alguém que te conhece e dizer "hey, estou me sentindo triste e não sei por quê.", elas sempre querem um motivo e pelo que conhecem sobre ti vão supor ser por isso ou por aquilo. Talvez até fiquem bravas. Eu não sei. Só não queria sair preocupando ou incomodando ninguém.
E esse meu colega já não estava em uma época boa de sua vida também, então foi um pouco terapêutico para ambos. Sem contar que ao dividir essas coisas com ele as vezes acabava ajudando ele e vice-versa, então não me incomodei por não contar a mais ninguém.
 Até que um dia, após terminar um trabalho da faculdade, comecei a me sentir muito ansiosa. Foi uma sensação estranha, em que eu tentava me alcamar e começava a ficar mais nervosa por isso. Minha respiração começou a ficar mais rápida e do nada comecei a chorar. Lembro que comecei a ficar com medo disso e daquilo e pensei em ir falar com meus pais, mas ao mesmo tempo eu sabia o que eles diriam. Sim, eles diriam que eu tava de frescura(não os culparia se eu chegasse com isso do nada) ou então ficariam pensando que eu teria uma convulsão, e acredite quando eu digo, tudo o que você não quer é que sua mãe fique com medo de que você tenha um ataque. Então eu saí do computador e fui o mais rápido que pude para o meu quarto. Fiquei lá chorando desesperada, com o coração disparado sem saber o que fazer direito. Aí pensei em falar com esse meu colega, mas eu o conhecia há tão pouco tempo, não queria chegar e dizer que tava passando mal sem motivo. Recorri a uma amiga minha e infelizmente ela só pode responder algumas horas depois. Não que ela pudesse fazer algo para me ajudar antes. Foi muito bom poder contar o que eu estava sentido e sentir que estava sendo compreendida.
 Aparentemente aquilo foi um ataque de pânico, assim, sem motivo algum aparente. Eu levei um bom tempo para me recuperar e mesmo no dia seguinte eu ainda sentia o medo.
 Então depois de algum tempo eu comecei a melhorar. Ainda sentia esse desanimo gigante, mas ao menos havia voltado a falar com quem briguei.
 E então um dos meus gatos foi pego pelo cachorro do vizinho. Eu sei que isso parece algo indiferente, que não deveria afetar minha vida assim. Mas afetou. Quando eu vi meu gato na casa do vizinho, com minha mãe gritando desesperada, a sensação foi como se não houvesse uma grama de força em meu corpo e ao mesmo tempo me senti como se tivesse tomado altas doses de energia. Não vou descrever cada ato, mas eu senti que deveria me manter firme por minha mãe. Eu a conhecia muito bem para saber o que um dos gatos significava para ela e da última vez que algo assim aconteceu ela ficou realmente mal por dias. Então eu não poderia ser um fardo naquele momento.
E nesse momento eu conversei com várias pessoas importantes e cada um me ajudou de algum jeito.
Só que menos de uma semana depois meu cachorro morreu do nada. Não tenho ideia do que deixou ele doente, mas ele se foi. E mais uma vez eu fiquei dando carinho até que meu bichinho se fosse. E foi então que eu praticamente desisti das coisas.
Eu tentei continuar, mas parecia que tudo ia dar errado em algum momento, eu já tava cansada disso tudo. Já não conseguia fazer os trabalhos da faculdade direito, já brigava com todo mundo, já não dava muita importancia para quase nada.
Eu sei que parece exagero, mas eu tava me sentindo inútil e triste. E o pior de tudo era que eu estava bem e não sabia.
Umas duas semanas depois, na verdade hoje faz dois meses que isso aconteceu, minha mãe foi atropelada enquanto atravessava a rua. Ela foi imprudente, como quase sempre.
Ela trabalhava de noite e eu lembro muito bem de cuidar as horas e ver que já era quase de manhã e que ela ainda não havia chegado. E eu fiquei preocupada. Na verdade foi uma coisa muito estranha, a pior sensação do mundo.
E aí quando acordei, já tarde, vi meu irmão parado na porta do meu quarto me chamando. Foi ali, naquele momento, sem precisar dizer nada que eu soube que tinha algo errado.
Eu não fui no hospital vê-la, por que não consigo lidar com esse ambiente. Me sinto fraca, com medo e também não sabia se queria ver ela daquele jeito. Seria muito desesperador.
No dia seguinte acordei com meu pai ao meu lado na cama e meu irmão novamente parado na porta. Meu pai tentou não chorar, mas a verdade é que ele sempre foi um bebê chorão. Ele disse que era o pior dia de nossas vidas e antes de qualquer palavra ser dita eu já sabia e comecei a gritar que não e me virei para a parede. Foi assim, sem choro, só desespero de minha parte.
Chorar mesmo só fui capaz quando estávamos na capela e uma amiga veio me abraçar. Eu não sei por que não consegui antes, sendo que já havia estado com algumas pessoas que realmente importam para mim, mas foi assim. E mesmo que tenha chorado ali, foi algo tão breve.
Eu sei que muita gente acha importante ver a pessoa que amamos no velório, mas eu não sabia se queria isso. Eu fui, mas para mim aquela não era minha mãe. Não senti nada, o que foi estranho.
E assim se seguiu, de vez em quando eu dando uma chorada praticamente mínima.
Se antes eu já tava sem vontade de fazer algo da faculdade, agora eu não queria fazer nada da vida. Eu sei que parece exagero, mas eu ainda sinto isso, que não faz mais sentido nada. Realmente nada.
Não me importo nenhum pouco com a faculdade, não me importo se for assaltada, se tentarem me matar. Não me importo tanto com os outros, não me importo com nada, simples assim.
Mas aí eu comecei a pensar no que minha mãe acharia disso. Desde que eu ainda estava no fundamental nós tinhamos planos para minha faculdade e foram muito os obstáculos que ela enfrentou para conseguir isso.
Se eu fosse assaltada ou morta minha família iria passar mais uma vez pela mesma coisa que estou passando e eu nunca, nunca iria querer isso. Eu realmente não consigo me importar com minha vida agora, mas se isso era algo importante para ela, quem sou eu para do nada desistir?
Honestamente, eu comecei a me sentir cansada de ouvir "seja forte" ou "tu precisa se forte por tua família". Eu não queria ser forte. Eu queria, e de fato ainda quero, sair correndo para qualquer lugar, o mais longe possível e ficar sozinha.
E se você acha que agora, dois meses depois, tudo está um pouco melhor então está terrívelmente enganado. Para mim tudo está cada vez pior. Agora eu já não paro de chorar nunca. A dor é muito mais forte, o medo de tudo é maior. Deus, o medo de fracassar e não poder ser nada do que minha mãe queria que eu fosse! Do que ela acreditava que eu era capaz!
 Agora eu preciso enfrentar isso, esse medo e a vontade de me esconder em meu casulo, por que eu tenho que continuar tentando por ela.
Isso é quase impossível, pois ela era minha força. A gente brigava o tempo inteiro, mas ainda assim o tempo inteiro estávamos compartilhando o que vivíamos e achavámos de tudo. Ela sabia minha opiniões e eu as dela. Na verdade eu nunca havia percebido isso, mas ela era minha melhor amiga. A pessoa para quem eu contava mais coisas no mundo. Todos os dias, quando chegava da faculdade, ia até ela contar o que havia acontecido ou sobre os planos que tínhamos.
Aliás, a última coisa que combinamos foi construir uma casinha de bonecas como a da Sylvanian. Agora eu não consigo entrar em uma loja de brinquedo, pois o que eu mais gostava de ver eram os bichinhos dessa marca.
Assim como sempre me pego triste indo para faculdade, pois no caminho passo por uma casa que sempre imaginei perfeita para ela e que um dia queria construir como presente.
Nada disso vai acontecer. Não faremos mais projetos, não farei a casa dos sonhos dela, não a verei na minha formatura. Não terei a pessoa mais importante na minha vida.
Todos os dias quando passo por algum idoso fico indignada pelo fato de que minha mãe não teve a oportunidade de viver esse tanto.
E é isso que eu gostaria que todo mundo soubesse. Eu não estou mal há apenas dois meses, embora nada que tenha acontecido antes disso tenha alguma importancia.
Eu quero sair e conseguir fazer as coisas, mas eu não consigo ficar sem pensar nela momento algum. Eu não quero falar sobre isso o tempo inteiro por que por mais que todo mundo diga que não tem problema, eu sei que incomoda um pouco. Quase ninguém está confortável para falar sobre isso.
E sim, tudo me lembra ela por ela ser meu tudo.
Juro que vou tentar melhorar, que vou tentar levantar e ser alguém. Isso é o que quero, por que nada no mundo a faria tão triste quanto me ver assim. Mas ao mesmo tempo essa é a coisa mais difícil que existe.

Espero que tenham lido até aqui, pois acho que seria algo importante para se saber.
Não quero que tenham pena de mim, ok? Quero apenas que entendam tudo o que está acontecendo e que de algum modo consigam entender que vou ficar mal do nada e que nada me faria melhor além de ter algum suporte das pessoas que importam para mim.